LAVAGEM DE ITAPUÃ
Este é um momento especial para o bairro. Fanfarras passam pelas ruas, os mais animados já arriscam os primeiros passos de danças de carnaval, e, em frente à Igreja da Nossa Senhora da Conceição, as baianas lavam as escadarias e o batente do templo. As portas da Igreja ficam fechadas, enquanto os adeptos da fé sincrética fazem uma verdadeira faxina na entrada do prédio, na verdade, uma faxina espiritual. Não muito longe dali, há uma extensa fila de trios elétricos, que começam a passar o som. Isso já constitui um show à parte. Muita gente fica olhando as carretas, esperando ver um artista ou banda famosos. A festividade teve início há cerca de 100 anos. Nasceu de uma homenagem anual que os pescadores faziam a Yemanjá, divindade de origem ketu sincretizada com Nossa Senhora da Conceição. A partir da década de 50, a festa começou a ser influenciada pelo carnaval, algo que a fez sobreviver até os dias de hoje, como uma data festiva que mora no limbo entre o sagrado e o profano. A festa, como o Carnaval, não tem data certa para acontecer, varia em função do calendário religioso, mas ocorre sempre nas primeiras semanas do ano, antes da folia momesca

PRESENTE DE OXUM
O presente de Oxum ocorre todo ano no mês de outubro. São centenas de devotos e foliões que acompanham pelas ruas do bairro o cortejo do balaio, com oferendas para a orixá de origem Ketu. Nos últimos anos, a obrigação tem sido realizada pelo terreiro mina-jêge Guerebetan Soagboadã, dirigido pelo pai-de-santo Zé de Bessém, em Nova Brasília de Itapuã. A parte da festa aberta ao público tem início pela manhã, quando os fiéis entoam cânticos à orixá da água doce, dançando em sua homenagem em volta do balaio com as oferendas.
A partir daí, ganham as ruas da Nova Brasília e descem a Ladeira do Abaeté. Lá, novamente são entoados cânticos religiosos e depois, durante o intervalo para o almoço, há samba-de-roda e muita folia: afinal é momento de celebrar. Mais tarde, lá pelas 16 horas, o presente é depositado no meio da lagoa, pelo pessoal que nada até chegar à profundidade de cinco metros, onde tradicionalmente o presente é colocado. O presente de Oxum se perde na tradição oral do bairro, sendo tão antigo quanto este. Outros eventos religiosos têm ganhado força na lagoa, como o batismo realizado por várias igrejas evangélicas, em ocasiões que chegam a reunir três mil pessoas.
MISSA DO ANZOL
Todo ano, no dia 29 de junho, Itapuã acorda sob o pipocar de fogos. É o início de uma expectativa para o recomeço de uma tradição que se repete há dezenas de anos. Trata-se da Missa do Anzol ou de São Pedro. É a data comemorativa do dia dos pescadores e de seu santo padroeiro. Como reza a tradição, o 29 de junho é o dia de São Pedro dividir o altar com Nossa Senhora da Conceição, pelo menos até sair carregado em procissão marítima até à maior colônia de pescadores de Salvador, a Z-6, localizada no bairro. O percurso não é tão longo. São apenas cerca de 500 metros da Igreja até o barracão da colônia. A imagem do santo fica no barracão por dois dias. Nesse período, os fiéis se revezam em rezas e agradecimentos pelas graças alcançadas. O evento conta com a colaboração do grupo das ganhadeiras, que se juntam aos pescadores pedindo graças a São Pedro. Talvez a maior graça que poderia ser alcançada fosse uma maior generosidade do mar. A pesca, a cada ano, vai ficando mais escassa.